Alice nos paises da jiboia

"A Chave de Vidro"

Numa vila esquecida pelo tempo, chamada Brumavela, todos os relógios haviam parado exatamente às 03h33 da madrugada de um outono distante. Ninguém sabia o motivo, mas desde então, nenhum relógio funcionava por mais de um dia inteiro. As pessoas aprenderam a viver com o sol, as sombras e os ventos.

No centro da vila, havia uma torre sem portas, com janelas tão altas que nem os mais velhos se lembravam quem as construiu. Diziam que ela guardava o coração do tempo — um artefato mágico perdido dentro dela, trancado por uma chave feita de vidro.

Lina, uma jovem de 16 anos, cresceu ouvindo as histórias de sua avó sobre essa torre. “Um dia, a torre vai escolher alguém. E quando isso acontecer, Brumavela vai respirar de novo”, dizia ela, sempre olhando para o céu nublado como se esperasse um sinal.

Certa noite, enquanto explorava o sótão da casa, Lina encontrou um colar antigo, com um pingente em forma de gota. Quando o segurou, sentiu o objeto pulsar, como se tivesse vida. Na mesma hora, todos os relógios da casa começaram a funcionar — por exatamente trinta e três segundos.

Intrigada, Lina levou o colar até a torre. Ao se aproximar, pela primeira vez na história da vila, uma rachadura surgiu na parede lisa da construção. A torre estava acordando.

A gota de vidro se transformou em uma chave diante de seus olhos.

Com mãos trêmulas, Lina a inseriu na rachadura. A torre se abriu com um som que parecia o suspiro de um gigante dormindo há séculos.