Mínima Linha Infinita – O Caminho do Haikai para a Poesia
É preciso deixar-se levar por aí para responder à pergunta que (des)orienta nosso curso: o que um poeta brasileiro do século 21 tem a aprender com poetas japoneses que viveram e escreveram há tanto tempo, como Bashô e seus discípulos? Se for preciso apertar as possíveis respostas num punhado de palavras, podemos dizer que as principais lições do haikai para os poetas, de qualquer tempo ou língua, têm a ver com a percepção de que a poesia está ligada a uma mudança profunda do jeito como passamos pela vida e sentimos o mundo, bem como à busca de uma forma mais precisa, mas também mais corajosa e generosa de entregar palavras aos leitores. Por isso, entrar no universo do haikai faz com que tudo se desloque – e isso é ótimo!
Nos módulos do curso, destaco alguns aspectos dessa transformação que a experiência do haikai proporciona:
- toda palavra é um poema
- o caminho da poesia
- as lições do haikai
- a coragem de não dizer
- (n)o mínimo, (n)o máximo
- a experiência do poema
- silêncio por todos os lados
- ruído por todos os lados
- onde o poema começa
- onde o poema termina
O poeta mexicano Octavio Paz, decisivo tradutor e divulgador do haikai, fez um importante alerta sobre a poesia de Matsuo Bashô: “sua simplicidade é enganosa, lê-lo é uma operação que consiste em ver através de suas palavras”. Paradoxalmente, ao recolher-se em três curtíssimos versos, o haikai convida os leitores para uma aventura do poema sem fim – e isso talvez explique a paixão que esses pequenos poemas seguem despertando em tantas línguas e culturas tão diferentes, fazendo com que queiramos não apenas degustá-los repetidas vezes e até escrever como haijin (o poeta que escreve haikai), mas também viver o haikai: deixar-se transformar por essa forma de ver e viver o mundo. Por que não? Pé na estrada!