Sereis como deuses

Os grandes marqueteiros não explicam tão bem quanto poderiam aquilo que fazem. Mas tudo bem: ninguém pediria a Pelé uma aula de física sobre a mecânica do chute a gol.

Isso fica claro quando lemos muitos livros de marketing. Evolucionismo, Maslow... Mas onde isso foi exatamente usado na aplicação, na arte do marketing?

Minha aposta é que a teoria do desejo mimético de René Girard, tirada dos grandes clássicos da literatura -- clássicos que, afinal, tratam do desejo -- pode explicar o marketing e a publicidade melhor do que eles explicam a si mesmos.

E aqui enfatizo: eu trabalho com teoria. Com explicações. Não sou marqueteiro. Escrevo e dou aulas. Vendo textos e aulas.

Não estou aqui para competir com copywriters, mas para apresentar uma explicação do marketing que traga mais clareza para os marqueteiros -- ou para quem quiser entender melhor este mundo repleto de publicidade e de influenciadores.

O curso se chama «Sereis como deuses» porque a Serpente do Paraíso foi a primeira instigadora de desejo. Você já reparou que a famosa maçã de Adão e Eva só ficou interessante porque era... proibida? Porque foi o primeiro «eis aqui o que eles não querem que você saiba»?

Existem astúcias parecidas que fazem com que uma bolsa custe o valor de um carro -- não «porque» ela seja exclusiva, mas PARA que seja exclusiva.

E compramos a bolsa. O carro. Sonhamos com a vida dos influenciadores da internet. Queremos influenciar; não queremos ser influenciados. Queremos... ser como deuses.

Isso nunca esteve tão evidente quanto hoje, mas ainda não foi explicado, articulado. A teoria mimética de René Girard já ofereceu explicações originais para a religião, para o sagrado, e agora podemos juntos usá-la para entender o marketing atual, com marcas e influenciadores tentando reviver o paganismo antigo.